Violino e Amor


Todo dia eu era despertada por pequenos sabiás. Esses pequenos haviam feito um ninho na minha janela. Eu gostava de ouvi-los cantando, como me trazia paz e tranquilidade. Eu adorava aquele canto tanto como adorava caminhar nas manhãs de sábado ou ouvir música para me inspirar. Música. Aquele canto era uma verdadeira música para mim. Os passarinhos em sua inocência, em sua felicidade, um alimentando o outro, cuidando e zelando para que os pequenos crescessem fortes. Eles me traziam alegria.
Eu seria capaz de lembrar exatamente quando comecei a amar música. Era uma tarde calma, eu caminhava pelas calçadas com pressa, meu ônibus havia atrasado e se eu não corresse chegaria muito atrasada na minha aula de ballet. Eu estava tão nervosa e preocupada com o horário que só ouvia a voz do meu pensamento. Foi quando sem querer trombei num carinha esguio sentado sobre uma caixa de som. Ele me olhou, mas continuou tocando seu violino. O violino. Eu me apaixonei quando vi e ouvi, as vozes em minha cabeça cessaram e eu me senti flutuando. Queria aprender aquilo. Queria aprender a tocar. Me esqueci até da minha aula, eu não tinha nem uma moedinha pra colocar no chapéu em frente ao cara. Mas eu fiquei lá até ele terminar de tocar a canção. Quando ele terminou eu me desculpei por ter trombado nele e ele sorriu maroto.
- Sabe, todos os dias eu venho aqui em horários diferentes, é claro, mas todo dia estou aqui. E durante esses dias dezenas de pessoas passam aqui durante a volta do serviço, a ida a algum lugar ou só estão esfriando a cabeça. Várias esbarram em mim e são poucos os que param para me pedir desculpa. Então, por que você parou? - ele perguntou sustentando um olhar. Os olhos dele brilhavam.
- Su passo aqui três vezes por semana, hoje, eu estava com um milhão de coisas na cabeça e nem te ouvi ou vi. Eu só queria chegar ao estúdio logo. E então eu ouvi essa música, esse som e... Uqe extase! Eu simplesmente amei. Queria ter dinheiro aqui. - confessei após um suspiro.
- Dinheiro? Eu não toco nas ruas por dinheiro. Toco nas ruas para que pessoas, sobrecarregadas de problemas, possam ter uma porta de escape, um alívio. É isso que vale para mim.
- Eu quero muito aprender a tocar, estou apaixonada. - falei rindo. E de fato estava.
- Incrível né? - ele indagou sorrindo - O que a música faz? Sabia que vocé sente a música pelo lado emocional e não pelo racional? Você de fato sentiu. Posso ensiná-la se quiser. - eu sorri e topei na hora. Doida, né? Eu sempre fui um pouquinho. Mas quer saber algo que aprendi? Você precisa se arriscar às vezes. Passei a tarde toda conversando com aquele carinha, mal sabia que ele se tornaria professor, amigo e meu amor.
Um amor que nasceu junto com a música. Era tudo que eu queria. Estamos juntos até os dias atuais. Hoje em dia, eu toco piano, violino, harpa eflauta doce. Meus amores só aumentam. Estou grávida. Logo serei mãe e receberei de Deus mais um amor. Serei eternamente grata à música. Ela me deu uma família e um amor. Ela me fez amar a vida. Me fez sentir tudo intensamente. Me fez fechar os olhos e imaginar, imaginar e imaginar. A música me deu vida.

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