Homenzinhos vermelhos de Marte




Corro, corro, corro. Encosto em uma parede totalmente ofegante, meu Deus, estou correndo do quê? Por que eu não consigo me lembrar? As paredes afundam com o meu peso e cada lado dela parece ter uma cor. Espere aí, isso aqui é gelatina? Ai Jesus, que loucura. Um barulho estridente faz-me lembrar que preciso voltar a correr. Me sinto uma fugitiva. Ao correr por mais ou menos umas quatro quadras, encontro um amigo de infância que assim como eu, logo me reconhece.
- Clara, e aí? - ele me abraça e de imediato sinto um grande volume. Acho que ele acaba percebendo meu desconcerto porque logo se afasta e começa a rir - Ah, relaxa! Não é meu amiguinho isso aqui - ele enfia a mão na calça - É só a minha trinta e oito. Você estava indo para onde?
- Nem eu sei, Ma. Eu só estava correndo. Tentando me salvar, acho.
- Se salvar? Tô fazendo isso também. Desde que tudo isso começou, eu corro por aí sem lugar fixo e um sono tranquilo. Mas eles sempre me acham.
- Eles quem? - pergunto confusa.
- Os caras que se misturaram aos extraterrestres. - eu coloco a mão sobre a boca para segurar a gargalhada.
- Extraterrestres Mauricio? Conta outra. - Queria eu. Desde que eles dominaram o planeta, as paredes são pura gelatina, as ruas são como areia movediça, as casas flutuam, as pessoas se tornaram robôs e os carros voam. A noite, quando todos estão dormindo, eles saem em seus ovnis procurando pessoas que ainda não receberam o chip e que não estão sendo controladas. São pessoas assim como eu e você e que eles veem como uma ameaça.
- Quanto tempo você levou para inventar isso? - como eu poderia acreditar em tudo aquilo? Era doidera demais.
- Será que você não consegue ver? Venha até aqui. - ele me puxou pelo braço e me tirou do beco me levando até o meio da rua. Apontou para cima. Haviam enormes pistas e todas as casas de fato flutuavam. - Eu não estou brincando. Não estou tão doido assim. Ali em cima são estradas, casas... E sabe essas árvores aqui? São apenas enfeites. É tudo plástico. Lá em cima eles vivem literalmente nas nuvens e pelo tempo que tudo isso começou, me surpreende você nunca ter notado.
- Só não posso crer em casas flutuantes e carros voadores. É surreal demais. -  confessei seguindo-o de volta ao esconderijo no beco.
- Quando o mundo ainda estava em ordem, cientistas atrás de cientistas estudavam as casas flutuantes no Japão e na Amazônia. Isso tudo já existia, só que menos desenvolvido. As casas flutuavam sobre a água, mas qual a diferença delas sobre a água e elas no ar? Nenhuma. Não há porque se surpreender com isso. O homem tem a natureza magnifica, o problema é termos virado robôs de homenzinhos vermelhos vindos de marte.
- De marte? Como? - enquanto Mauricio falava, eu me perguntava se congelei durante esse processo ou se havia simplesmemte hibernado.
- Há mais ou menos 30 anos atrás, recebemos do espaço sinais vindos de Marte, sinais como que de comunicação. O homem, em sua extrema curiosidade, passou a construir foguetes que chegassem até Marte e quando concluído, foram até o planeta onde passaram a se comunicar com os residentes de lá e aos poucos fomos dominados por eles.
- Em que ano estamos? - eu deveria ter feito essa pergunta a muito tempo.
- 2045. - Mauricio respondeu boquiaberto. Ele me olhava como se eu fosse a et ali e não aqueles que passaram a controlar a humanidade inteira.
- Impossível. - respondi descrente. Como posso ter ido dormir em 2015 e acordar em 2045? - Mauricio riu de canto.
- Experimente acordar.
***
Levantei da cama com o coraçao acelerado e corri para a janela. Tudo estava no chão, inclusive os carros. Eu estava lendo ficção demais. Ainda bem que tudo não passou de um sonho... Carros voadores, aff. Até parece.

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