E foi assim que conheci sua mãe.


-Esse lugar está vazio? -ela perguntou, mas ainda hoje não sei porque ela me perguntou isso, já que era bem óbvio que estava. Bom, mas uma das perguntas sem sentido da vida.
- Claro que está, pode sentar -respondi educado, educação é o primeiro passo pra ir pro céu  (ao menos foi isso que me ensinaram).
-Obrigada - ela disse já se sentando, ela parecia ser bem jovem, cabelos curtos um pouco arrepiados, um colar que mais parecia uma coleira, jaqueta grande demais pra ser dela e calça clara rasgada, uma dessas jovens que não fazem muita coisa da vida - você sabe me dizer se esse ônibus passa perto do teatro? -ela perguntou um pouco depois.
-Passa sim, passa na rua de trás, eu te aviso quando for o ponto se quiser.
- Muito obrigada, eu agradeço, de coração -ela disse animada.
Era uma garota estranha, não sei o que iria fazer no teatro, é uma cidade pequena e o teatro só serve pra algumas apresentações de crianças ou palestras de auto ajuda, uma bobeira completa, pra variar, não contenho minha curiosidade.
- O que vai fazer no teatro? Alguma peça em cartaz?
- Na verdade não -ela disse com um sorriso orgulhoso - é uma peça da escola, não é "aberta ao público", é mais para os pais, sabe? Minha filhinha vai apresentar hoje, é a principal, o papel da chapeuzinho vermelho, estou muito feliz -ela terminou animada.
- Nossa!  - não consegui conter o espanto, mãe?? Quem é mãe naquela idade? - Quer dizer parabéns, imagino que esteja orgulhosa, quantos anos ela tem?
- 4 anos, mas ela parece ter mais, é muito inteligente, fala e anda como moça, um amor de criança - ela dizia sem esconder o orgulho que sentia - todos me disseram que não era bom colocar ela na escola tão cedo, mas eu acho que foi bom, ela gosta muito de conversar com os amiguinhos, esses dias disse que quer ser professora - ela riu com uma risada gostosa que me fez rir também - uma criança daquele tamanho já escolhendo o que quer ser, mas até que acho bom, sabe? Já ta pensando no futuro, espero que lá pra frente ela não perca esse jeitinho de pensar, nossa, me desculpa, eu to falando tanto, o senhor tem filhos?
- Não, não tenho - ia dizer que ainda era jovem pra isso, mas... segurei minha língua, não queria ser indelicado com minha companheira de viagem - sempre quis ter, mas eu não tenho lá muita sorte com as mulheres - disse com um riso amargo.
- Eu também naum tenho sorte com homens - ela disse encarando as unhas roidas.
- Qual o nome da sua filha? - disse me arrependendo - quer dizer, isso ta ficando estranho, parece que to investigando sua vida - ela riu e eu ri junto - desculpa eu não quero te assustar, juro.
- Tudo bem, não está me assustando, vc é um cara legal, não acho que vá me levar pra Turquia - ri da piada, e também da risada dela - o nome dela é Manuela, foi minha irmã mais nova que escolheu.
- Nome bonito.
- É sim, eu também gosto, aliás, já que estamos conversando, qual seu nome?
- É verdade, ainda não fomos apresentados, meu nome é Marcos, muito prazer - disse lhe estendendo a mão.
- Mariana, o prazer é todo meu - ela disse quando apertou a minha mão e me deu um sorriso, eu... já estava sorrindo a um bom tempo.
- Ah... -comecei a falar, com vontade de não falar - vai chegar o seu ponto, tipo o próximo.
- É mesmo? Até que é longe, nunca tinha pegado esse ônibus.
- Já eu tenho que pegar todo dia pra voltar do trabalho - disse rindo e levantei pra puxar a cordinha - olha, juro que não vou te levar pra Turquia, mas quantos anos você tem?
- Tenho 18 - ela falou rindo, mas mordeu um lábio - vou fazer 19, mês que vem.
- Seu ponto - falei um pouco inseguro - até alguma outra apresentação.
Vi ela se levantando com as outras pessoas, ela sorriu, agradeceu e se virou pra sair, eu me virei, sentei e olhei pela janela pra ver se via ela me dando um tchauzinho, mas ela não estava ali, ouvi um estalo e minha mão estava sendo puxada, por... uma mão com unhas roidas.
- Vamos, acho que tem um lugar pra você, sei que esta cansado, mas ela vai gostar muito de te conhecer... - ela disse quando saltamos do ônibus, pouco antes da porta se fechar, ela estava ofegante por ter corrido, mas estava sorrindo e com as bochechas coradas, era realmente uma garota muito bonita... Nem acredito que pegou o mesmo ônibus que eu.

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